FAMÍLIA,
A NOSSA PRIMEIRA IGREJA
Nunca tinha pensado seriamente sobre
o assunto até me casar e também nunca achei que seria um problema até ter
pensado sobre o assunto. Seis meses após o casamento, comecei a sentir que
deveríamos nos reunir como casal, como família, para cultuar a Deus no nosso
lar. Certo dia, uma amiga querida (a Jac!) colocou em seu Facebook um trecho do
livro “Adoração no Lar” e aí então eu tive certeza de que era isso que
precisávamos! Comprei o livro e o devorei em uma noite (até porque ele não tem
nem 100 páginas e é do estilo pocket). Desde então comecei a entender a
importância do culto familiar e compartilho agora com vocês algumas dessas
coisas tão preciosas que aprendi.
Em primeiro lugar precisamos observar
que o culto doméstico é uma prática esquecida e quase completamente abandonada
pelas famílias cristãs. Na verdade mal as famílias se reúnem para o jantar ou o
almoço, imagine então para cultuarem ao Senhor juntos! Infelizmente as pessoas
não costumam ligar isso ao fato de os divórcios aumentarem, de os adolescentes
serem apenas membros nominais da igreja ou de a própria igreja estar
enfraquecida. Porém, tem tudo a ver. É como o velho discurso de que a educação
começa em casa e a escola só será realmente eficaz se os pais fizerem a sua
parte. Por que na igreja seria diferente? Se as famílias não ensinam seus
filhos a adorarem a Deus em casa por que se espantam quando a igreja falha
nessa tarefa?
“Conforme as coisas são em casa,
assim o serão na igreja e na nação. O culto doméstico é o fator que determina
como as coisas andam no lar. É claro que o culto doméstico não é o único fator
determinante para isso. Ele não substitui outras obrigações paternas. O culto
doméstico sem o bom exemplo dos pais é fútil.” (Joel Beeke. Adoração no Lar.
p.12)
Podemos
nos lembrar do exemplo de Josué: “Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com
sinceridade e com verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos
pais além do rio e no Egito, e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal
aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses
a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos
amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao
Senhor.” Josué 24:14-15. Josué não fez do
culto ao Deus vivo algo opcional e nós devemos seguir o seu exemplo. Um dos
louvores que cantamos no dia do nosso casamento continha parte desse versículo
e era isso que tínhamos em mente naquele dia: sermos uma família que cultuasse
a Deus, que lhe glorificasse.
E o melhor é saber que no caso de
Josué essa adoração influenciou sua nação a ponto de ser registrada da seguinte
forma: “Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias
dos anciãos que ainda sobreviveram muito tempo depois de Josué, e que sabiam
todas as obras que o Senhor tinha feito a Israel.” Josué 24:31. Esse é o
encorajamento que encontramos para a adoração no lar, saber que tal coisa
poderá permanecer por ainda muitas gerações depois de nós. Já pensou deixar
como herança aos seus netos e bisnetos a prática do culto familiar? Ao invés de
dinheiro e bens, eles lhe agradeceriam como o irmão de Joel fez nas bodas de
ouro dos seus pais: “Pai, a lembrança mais remota que tenho é a de
lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto você nos ensinava sobre como o
Espírito Santo guia os crentes, nas noites de domingo, quando usava o livro “O
Peregrino”. Quando eu tinha três anos de idade, Deus o usou em nosso culto
doméstico para me convencer que o cristianismo era verdadeiro. Não importa o
quanto eu tenha me desviado nos últimos anos, nunca pude questionar seriamente
a veracidade do cristianismo e quero lhe agradecer por isso.”
A ideia é que o chefe da família, ou
seja, o pai, seja aquele que dirige esse momento: “O princípio da representação
inerente à aliança de Deus ao relacionar-se com a raça humana indica que o
chefe de cada família deve representá-la no culto de adoração a Deus; e também
que, o ambiente espiritual de bem-estar pessoal daquela família, a longo prazo,
será afetado grandemente pela fidelidade – ou fracasso – do cabeça da família
nessa questão.” (Adoração no Lar. p. 23) Mas, quando os pais não podem cumprir
essa tarefa pessoalmente, devem incentivar suas esposas a levarem a cabo esse
preceito. Timóteo por exemplo, foi muito abençoado pela instrução diária de mãe
e avó tementes a Deus.
Aprendi também que mediante as
Escrituras, Deus deve ser servido de três formas no culto familiar diário:
1. Pela instrução diária na Palavra de Deus.
“E
estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e
delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e
levantando-te.” Deuteronômio 6:6-7. Deitar e
levantar são atividades diárias, bem como ensinar a Bíblia aos filhos, assim
diz o texto. Também temos um texto paralelo a esse no Novo Testamento: “E
vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e
admoestação do Senhor.” Efésios 6:4. Num lar organizado, essas atividades
acontecem em momentos específicos do dia.
2. Pela oração diária ao trono de Deus.
2. Pela oração diária ao trono de Deus.
“Antes de tudo, recomendo que se
façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens;” I
Timóteo 2:1 Todas as famílias devem invocar
o nome de Deus e devem achegar-se ao Seu trono com orações e súplicas ou então
se submeter ao descontentamento de Deus. As famílias devem orar juntas
diariamente: “A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa;
os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa. Eis que assim
será abençoado o homem que teme ao Senhor.” Salmos 128:3-4. Eles comem e bebem
à mesa da provisão diária de um Deus gracioso, devemos agradecer a Deus como
diz em I Timóteo 4:4-5 pelo alimento, santificá-lo e do mesmo modo orar para
que Deus abençoe sua Palavra para nutrir as nossas almas e dos membros da nossa
família (Mateus 4:4). Também deveriam estar juntas pedindo perdão pelos seus
pecados, que são cometidos diariamente, agradecendo pelas bênçãos recebidas e
intercedendo por outras famílias e pessoas.
3. Com canções diárias de louvor a Deus.
“Nas tendas dos justos há voz de
júbilo e de salvação; a destra do Senhor faz proezas.” Salmo 118:15. Aqui temos
uma referência explícita ao canto. Esse canto em família pode ser como o canto
no culto de domingo: um som de alegria e salvação audível. Louvar a Deus é um
dever (2Crônicas 20:19). Desse modo, Deus é glorificado e a família é
edificada. Quando fazemos o culto aqui em casa, às vezes colocamos um louvor
pra tocar e aí cantamos junto, não é necessário que se tenha uma banda em casa
ou que todos os membros da família saibam tocar instrumentos e tenham uma bela
voz, o que não é definitivamente o caso da nossa família, mas ainda assim é
possível louvar a Deus. Deus quer que o adoremos não só individualmente, mas
também publicamente.
“Nossas famílias devem lealdade a
Deus. Ele nos colocou numa posição de autoridade para guiar nossos filhos no
caminho do Senhor. Somos muito mais do que amigos e mentores dos nossos filhos;
somos como seus mestres e governantes do lar, nosso exemplo e liderança são
cruciais.” (Adoração no Lar. p. 29).
# NA PRÁTICA
Ok. Já entendemos a importância desse
momento, mas como podemos fazê-lo na prática? Começo dizendo que mesmo famílias
sem filhos (ainda) devem fazer o culto doméstico.
Devemos ter Bíblias para cada um (que
souber ler). Podemos cada um ler um versículo ou deixar para que os mais velho
leiam partes maiores e o menores leiam partes menores, na medida da sua
capacidade. Então podemos discutir o texto, explicar talvez usando uma outra
passagem bíblica ou um testemunho pessoal. “Em se tratando de crianças talvez
se possa até usar livros ilustrados, em todos os casos explique aquilo que leu
e faça uma ou duas perguntas a eles. Em seguida cante um ou dois cânticos ou
salmos e um bom hino infantil. Termine com uma oração. Com crianças mais
velhas, leia uma passagem das Escrituras, memorize-a com ela e faça a aplicação
de um provérbio. Pergunte-lhes como elas aplicariam esses versículos na vida
diária pode também escolher alguma boa biografia ou um bom livro (indicações no
fim do post). Cante alguma canção ou salmo e termine com uma oração.
O culto pode ser feito em torno da
mesa de jantar, na sala de estar ou onde todos ficarem mais confortáveis e
concentrados. Mas certifique-se de que todo o material devocional esteja ali.
Coloque o celular no silencioso, o telefone na secretária eletrônica e tenha
seriedade nesse tempo. Todos devem entender que aquela é uma atividade
importante do dia e não deve ser interrompida.
Esse culto não precisa durar 2 horas,
ou mesmo 1 hora, principalmente com crianças pequenas. É melhor ter 20 minutos
de culto doméstico a cada dia do que tentar fazê-lo em períodos mais
prolongados só alguns dias. O mais importante é que ele seja diário. Não ceda
às desculpas para evitar o culto doméstico. Por exemplo, se perdeu a paciência
com sua esposa ou com seus filhos não pense “seria uma hipocrisia eu liderar o
culto doméstico hoje, então hoje não faremos”, ao invés disso, inicie o culto
pedindo perdão. Seus filhos o respeitarão por isso, ele serão tolerantes com as
fraquezas e até mesmo com os pecados de seus pais. Assim como o sacerdote do
Antigo Testamento não era desqualificado por ser um pecador, você também não é.
Mas assim como ele deveria oferecer sacrifícios por si mesmo, nós devemos pedir
perdão e confessar os nossos pecados.
E de uma forma bem pessoal eu diria
que esse é um momento especial de além da pregação da Palavra, um momento de
aplicação, de tirar dúvidas, de esclarecer a doutrina, de ouvir uns aos outros,
de orar pelos problemas uns dos outros e etc. Claro que em alguns dias o culto
doméstico se limita àqueles 20 minutos ou meia hora, mas em alguns casos ele
pode se estender e pode se tornar um belo momento de comunhão em família.
Para mais detalhes, dicas e ideias,
sugiro a leitura completa do livro Adoração no Lar e aqui vai uma lista de
livros sugeridos pelo autor para se utilizar durante o culto:
* Meditações no Evangelho de Mateus,
Marcos, Lucas e João de JC Ryle.
* O Peregrino de John Bunyan.
* Leituras Diárias de Charles Spurgeon