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sábado, 13 de setembro de 2014

FAMÍLIA, A NOSSA PRIMEIRA IGREJA


Nunca tinha pensado seriamente sobre o assunto até me casar e também nunca achei que seria um problema até ter pensado sobre o assunto. Seis meses após o casamento, comecei a sentir que deveríamos nos reunir como casal, como família, para cultuar a Deus no nosso lar. Certo dia, uma amiga querida (a Jac!) colocou em seu Facebook um trecho do livro “Adoração no Lar” e aí então eu tive certeza de que era isso que precisávamos! Comprei o livro e o devorei em uma noite (até porque ele não tem nem 100 páginas e é do estilo pocket). Desde então comecei a entender a importância do culto familiar e compartilho agora com vocês algumas dessas coisas tão preciosas que aprendi.
                                        
Em primeiro lugar precisamos observar que o culto doméstico é uma prática esquecida e quase completamente abandonada pelas famílias cristãs. Na verdade mal as famílias se reúnem para o jantar ou o almoço, imagine então para cultuarem ao Senhor juntos! Infelizmente as pessoas não costumam ligar isso ao fato de os divórcios aumentarem, de os adolescentes serem apenas membros nominais da igreja ou de a própria igreja estar enfraquecida. Porém, tem tudo a ver. É como o velho discurso de que a educação começa em casa e a escola só será realmente eficaz se os pais fizerem a sua parte. Por que na igreja seria diferente? Se as famílias não ensinam seus filhos a adorarem a Deus em casa por que se espantam quando a igreja falha nessa tarefa?
“Conforme as coisas são em casa, assim o serão na igreja e na nação. O culto doméstico é o fator que determina como as coisas andam no lar. É claro que o culto doméstico não é o único fator determinante para isso. Ele não substitui outras obrigações paternas. O culto doméstico sem o bom exemplo dos pais é fútil.” (Joel Beeke. Adoração no Lar. p.12)
Podemos nos lembrar do exemplo de Josué: “Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais além do rio e no Egito, e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” Josué 24:14-15. Josué não fez do culto ao Deus vivo algo opcional e nós devemos seguir o seu exemplo. Um dos louvores que cantamos no dia do nosso casamento continha parte desse versículo e era isso que tínhamos em mente naquele dia: sermos uma família que cultuasse a Deus, que lhe glorificasse.
E o melhor é saber que no caso de Josué essa adoração influenciou sua nação a ponto de ser registrada da seguinte forma: “Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram muito tempo depois de Josué, e que sabiam todas as obras que o Senhor tinha feito a Israel.” Josué 24:31. Esse é o encorajamento que encontramos para a adoração no lar, saber que tal coisa poderá permanecer por ainda muitas gerações depois de nós. Já pensou deixar como herança aos seus netos e bisnetos a prática do culto familiar? Ao invés de dinheiro e bens, eles lhe agradeceriam como o irmão de Joel fez nas bodas de ouro dos seus pais: “Pai, a lembrança mais remota que tenho é a de lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto você nos ensinava sobre como o Espírito Santo guia os crentes, nas noites de domingo, quando usava o livro “O Peregrino”. Quando eu tinha três anos de idade, Deus o usou em nosso culto doméstico para me convencer que o cristianismo era verdadeiro. Não importa o quanto eu tenha me desviado nos últimos anos, nunca pude questionar seriamente a veracidade do cristianismo e quero lhe agradecer por isso.”
A ideia é que o chefe da família, ou seja, o pai, seja aquele que dirige esse momento: “O princípio da representação inerente à aliança de Deus ao relacionar-se com a raça humana indica que o chefe de cada família deve representá-la no culto de adoração a Deus; e também que, o ambiente espiritual de bem-estar pessoal daquela família, a longo prazo, será afetado grandemente pela fidelidade – ou fracasso – do cabeça da família nessa questão.” (Adoração no Lar. p. 23) Mas, quando os pais não podem cumprir essa tarefa pessoalmente, devem incentivar suas esposas a levarem a cabo esse preceito. Timóteo por exemplo, foi muito abençoado pela instrução diária de mãe e avó tementes a Deus.
Aprendi também que mediante as Escrituras, Deus deve ser servido de três formas no culto familiar diário:
1. Pela instrução diária na Palavra de Deus.
“E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.” Deuteronômio 6:6-7. Deitar e levantar são atividades diárias, bem como ensinar a Bíblia aos filhos, assim diz o texto. Também temos um texto paralelo a esse no Novo Testamento: “E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor.” Efésios 6:4. Num lar organizado, essas atividades acontecem em momentos específicos do dia. 
2. Pela oração diária ao trono de Deus.
“Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens;” I Timóteo 2:1 Todas as famílias devem invocar o nome de Deus e devem achegar-se ao Seu trono com orações e súplicas ou então se submeter ao descontentamento de Deus. As famílias devem orar juntas diariamente: “A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor.” Salmos 128:3-4. Eles comem e bebem à mesa da provisão diária de um Deus gracioso, devemos agradecer a Deus como diz em I Timóteo 4:4-5 pelo alimento, santificá-lo e do mesmo modo orar para que Deus abençoe sua Palavra para nutrir as nossas almas e dos membros da nossa família (Mateus 4:4). Também deveriam estar juntas pedindo perdão pelos seus pecados, que são cometidos diariamente, agradecendo pelas bênçãos recebidas e intercedendo por outras famílias e pessoas.
3. Com canções diárias de louvor a Deus.
“Nas tendas dos justos há voz de júbilo e de salvação; a destra do Senhor faz proezas.” Salmo 118:15. Aqui temos uma referência explícita ao canto. Esse canto em família pode ser como o canto no culto de domingo: um som de alegria e salvação audível. Louvar a Deus é um dever (2Crônicas 20:19). Desse modo, Deus é glorificado e a família é edificada. Quando fazemos o culto aqui em casa, às vezes colocamos um louvor pra tocar e aí cantamos junto, não é necessário que se tenha uma banda em casa ou que todos os membros da família saibam tocar instrumentos e tenham uma bela voz, o que não é definitivamente o caso da nossa família, mas ainda assim é possível louvar a Deus. Deus quer que o adoremos não só individualmente, mas também publicamente.
“Nossas famílias devem lealdade a Deus. Ele nos colocou numa posição de autoridade para guiar nossos filhos no caminho do Senhor. Somos muito mais do que amigos e mentores dos nossos filhos; somos como seus mestres e governantes do lar, nosso exemplo e liderança são cruciais.” (Adoração no Lar. p. 29).
# NA PRÁTICA
Ok. Já entendemos a importância desse momento, mas como podemos fazê-lo na prática? Começo dizendo que mesmo famílias sem filhos (ainda) devem fazer o culto doméstico.
Devemos ter Bíblias para cada um (que souber ler). Podemos cada um ler um versículo ou deixar para que os mais velho leiam partes maiores e o menores leiam partes menores, na medida da sua capacidade. Então podemos discutir o texto, explicar talvez usando uma outra passagem bíblica ou um testemunho pessoal. “Em se tratando de crianças talvez se possa até usar livros ilustrados, em todos os casos explique aquilo que leu e faça uma ou duas perguntas a eles. Em seguida cante um ou dois cânticos ou salmos e um bom hino infantil. Termine com uma oração. Com crianças mais velhas, leia uma passagem das Escrituras, memorize-a com ela e faça a aplicação de um provérbio. Pergunte-lhes como elas aplicariam esses versículos na vida diária pode também escolher alguma boa biografia ou um bom livro (indicações no fim do post). Cante alguma canção ou salmo e termine com uma oração.
O culto pode ser feito em torno da mesa de jantar, na sala de estar ou onde todos ficarem mais confortáveis e concentrados. Mas certifique-se de que todo o material devocional esteja ali. Coloque o celular no silencioso, o telefone na secretária eletrônica e tenha seriedade nesse tempo. Todos devem entender que aquela é uma atividade importante do dia e não deve ser interrompida.
Esse culto não precisa durar 2 horas, ou mesmo 1 hora, principalmente com crianças pequenas. É melhor ter 20 minutos de culto doméstico a cada dia do que tentar fazê-lo em períodos mais prolongados só alguns dias. O mais importante é que ele seja diário. Não ceda às desculpas para evitar o culto doméstico. Por exemplo, se perdeu a paciência com sua esposa ou com seus filhos não pense “seria uma hipocrisia eu liderar o culto doméstico hoje, então hoje não faremos”, ao invés disso, inicie o culto pedindo perdão. Seus filhos o respeitarão por isso, ele serão tolerantes com as fraquezas e até mesmo com os pecados de seus pais. Assim como o sacerdote do Antigo Testamento não era desqualificado por ser um pecador, você também não é. Mas assim como ele deveria oferecer sacrifícios por si mesmo, nós devemos pedir perdão e confessar os nossos pecados.
E de uma forma bem pessoal eu diria que esse é um momento especial de além da pregação da Palavra, um momento de aplicação, de tirar dúvidas, de esclarecer a doutrina, de ouvir uns aos outros, de orar pelos problemas uns dos outros e etc. Claro que em alguns dias o culto doméstico se limita àqueles 20 minutos ou meia hora, mas em alguns casos ele pode se estender e pode se tornar um belo momento de comunhão em família.
Para mais detalhes, dicas e ideias, sugiro a leitura completa do livro Adoração no Lar e aqui vai uma lista de livros sugeridos pelo autor para se utilizar durante o culto:
* Meditações no Evangelho de Mateus, Marcos, Lucas e João de JC Ryle.
* O Peregrino de John Bunyan.

* Leituras Diárias de Charles Spurgeon